epístola aos poetas que virão

EPÍSTOLA AOS POETAS QUE VIRÃO (Manuel Scorza, Peru, 1928-1983)
Talvez amanhã os poetas perguntem por que não celebramos a graciosidade das garotas; Quiçá amanhã os poetas perguntem por que nossos poemas eram largas avenidas por onde vinha a cólera ardente. Eu respondo: por todas as partes se ouvia pranto, por todas as partes nos cercava um muro de ondas escuras. Seria a poesia um solitário filete de orvalho?
Tinha que ser um relâmpago perpétuo.
Eu vos digo: enquanto alguém padeça, a rosa não poderá ser bela; Enquanto alguém olhe o pão com inveja, o trigo não poderá dormir; Enquanto os mendigos chorem de frio na noite, meu coração não sorrirá.
Mate a tristeza, poeta. Matemos a tristeza com um pau. Não diga o romance dos lírios. Há coisas mais altas que chorar amores perdidoa: o rumor de um povo que desperta, é mais belo que o orvalho. O metal resplandescente de sua cólera, é mais belo que a espuma. Um Homem Livre é mais puro que um diamante.
O poeta libertará o fogo de seu cárcere de cinzas. O poeta acenderá a fogueira onde arderá este mundo sombrio.
(Tradução: Jeff Vasques)